Sim, fiquei escandalizada ao saber de uma declaração, em tom pejorativo: “Socialismo é coisa de pobre.” O que mais me escandalizou é que a quem fez a fala é profissional da educação, e trabalha numa das instituições de ensino mais conceituadas da cidade. Será que ela não estudou sobre socialismo e educação libertária na faculdade? Não. Não deve nem ter ouvido falar. Cada vez que parava pra pensar ficava mais pasma. Com alguém, que trabalha com educação, e sabe a realidade que vivemos nesse país, tem um pensamento discriminatório desse? Para mim, ser progressista e socialista é pré-requisito para ser professor. Salvo quem tenha se formado antes da década de 60. Esses pensamentos e questões me trouxeram um turbilhão de lembranças, desde a época da graduação em História, na UNIVALI, das aulas com tantos bons mestres e da convivência com especiais colegas. Lembrei dos textos da Marilena Chauí, das páginas de O Capital, da Revolução Permanente de Trótsky e da Pedagogia da Libertação de Paulo Freire. Lembrei, pensei, pensei mais e cheguei à conclusão que a colocação dela está correta. Socialismo é coisa de gente pobre sim. Não fosse o tom pejorativo e discriminatório usado, a afirmação daria um excelente debate. Porque pobre não é pobre por livre e espontânea vontade. E porque pobre deseja e luta por melhores condições de vida e oportunidade.
O socialismo surgiu como uma alternativa, como uma luz no fim do túnel para trabalhadores que tinham jornadas muito extensas e péssimas condições de vida e trabalho. Eles eram pobres. Mas não eram pobres porque trabalhavam pouco. Eram pobres porque o muito que trabalhavam valia pouco. E o dinheiro caía nas mãos dos patrões. O valor que era tirado do trabalho dos operários era acrescido no produto. Ou seja, o que valia mais era o produto, e o que valia menos era a força produtiva do trabalhador. E nessa lógica o dinheiro foi se concentrando nas mãos de poucos. Esses poucos até hoje têm o dinheiro que compra o tempo, o lazer, o sono, o saber.
Por isso socialismo é coisa de pobre. Do pobre que quer ter direito ao tempo, ao lazer, ao sono, ao saber.
Pode ser utópico, sonho, pode ter sido mal aplicado, não ter dado certo na Rússia. Mas é a alternativa de oportunidades iguais para todas as pessoas. E um dia, um grande professor da faculdade e da vida, num dia que eu estava desanimada e depressiva, me disse: “Eve, a gente tem que fazer a revolução no nosso dia a dia, com as possibilidades que a gente tem. É na nossa conduta, nas nossas pequenas ações que a gente faz o nosso socialismo”.
É isso.
Abraços fraternos, revolucionários, vermelhos e comunistas!
["A Revolução Permanente" - Leon Trotsky. Ed. Expressão Popular]