quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Intolerância: o extremo conservadorismo sai de trás da cortina.

Jovens de classe média e estudantes de colégios particulares espancaram dois rapazes na Avenida Paulista, por acreditarem que eram homossexuais. A garota do vestido curto saiu da universidade escoltada pela polícia e debaixo de gritos que a chamavam de prostituta. Estudante de direito pede que afoguem os nordestinos de São Paulo. Comentarista de TV catarinense faz apologia à ditadura e diz , indignado, que qualquer miserável hoje pode ter carro.

Percebe-se hoje em todo o Brasil uma forte onda de defesa dos valores conservadores, autoritários, xenófobos e preconceituosos de todo o tipo.

Bem básico, está lá na Wikipédia: Intolerância é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões.

Se fizermos uma reflexão sobre nosso passado histórico vamos compreender que o discurso da superioridade da elite branca em nosso país foi construído desde o início de sua ocupação pelo colonizador europeu, que buscava branquear e melhorar o Brasil, com a vinda de imigrantes brancos e trabalhadores para valorar a formação do povo brasileiro.

Esse discurso teve terreno fértil no seio das famílias conservadoras, ricas, brancas, herdeiras das capitanias hereditárias, oligarcas todo o país, de norte a sul e se perpetuam até hoje. Foi reforçado por movimentos políticos segregacionistas como a escravidão, desde o século XVI, até a ditadura militar e suas atrocidades, onde indivíduos julgam ter o poder de decidir e agir pelos demais. Vejo que é como se sentissem donos das outras pessoas. Como se pudessem fazer tudo, sem julgamento moral que os condene. É a elite que se constrói diferente e convence os demais dessa diferenciação.

Como diria um dos filósofos mais sábios que já conheci, o personagem Chicó da obra de Ariano Suassuna:. Eu, às vezes, chego a pensar que só quem morre completamente é pobre, porque com os ricos a confusão continua por tanto tempo, que chega a parecer que ou eles não morrem direito, ou a morte deles é outra.

Durante muito tempo as classes mais empobrecidas, os negros, os indígenas, as mulheres, os homossexuais foram convencidos que não eram merecedores de reconhecimento enquanto cidadãos.

Há muito pouco tempo a população começa a despertar e perceber que foi enganada. Que somos todos iguais, feitos da mesma matéria. Que essas poucas pessoas não tem o direito de nos dizer quem somos e como temos que agir. Que podemos pensar por nós mesmos e reivindicar nosso espaço, nossos direitos. Lutar por oportunidades com unhas, dentes e suor. Pois sim, somos todos iguais sim. Para aquele filósofo Chicó é a morte que nos iguala: “Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que posso fazer agora? Somente seu enterro e rezar por sua alma.”

Foi com o fim da ditadura militar no Brasil que os movimentos sociais que lutam pela diversidade e igualdade de oportunidades vêm se organizando politicamente. Aí estão grupos de negros, indígenas, mulheres, operários, gays, mães solteiras, pobres que querem construir sua vida com dignidade ao lado dos demais brasileiros. Nem acima, nem abaixo.

Todos aqueles que foram empurrados à margem da cidadania hoje buscam o direito de ter alimento na mesa, de estudar com qualidade, de ter seu chão e seu teto, ter seu carro, poder comprar uma geladeira nova e viajar nas férias.

Essa tomada de consciência das classes populares, tão recente, é um movimento que percebemos nas ultimas três décadas, e que acontece em toda a Latinoamérica, incentivado pelos governos populares que tentam reparar os prejuízos históricos aos que construíram a história de seus países com trabalho e luta.

E á e tentativa da reparação desses danos que causa essas reações raivosas da elite conservadora, que vemos nos discursos do Prates, nas ações dos adolescentes playboyzinhos, daqueles que queimam índios, agridem gays, subjugam mulheres e trabalhadores.

Por isso acredito que estamos entrando num período onde essa luta vai se fortalecer. De um lado aqueles que conquistam a garantia dos seus direitos a cada dia, e de outro o extremo conservadorismo que cria raízes cada vez mais profundas no terreno do preconceito, da segregação, do apartheid social.

E cabe à cada um de nós não silenciar diante de absurdos como esses. Denunciar, mobilizar, organizar, gritar por justiça e respeito.

Porque para mim o que há de mais revolucionário na humanidade é o RESPEITO.

Abraços, Evelise.

Um comentário:

  1. Essa não poderia deixar de reproduzir. achei o máximo!
    Parabéns Plínio!!

    (do blog www.conversaafiada.com.br)

    Caro Sr. Luiz Carlos Prates,

    Me chamo Plínio, sou professor de História e, como tantos outros das camadas mais baixas da sociedade, consegui comprar um automóvel nos últimos anos devido à facilidade de crédito implantado pelo governo Lula. Assim como tantos outros, adquiri um carro popular, já com 4 anos de uso e sem qualquer acessório que produza maior conforto ou coisa do tipo.

    Porém, gostaria de relatar algo que o Sr. provavelmente não sabe, ou tenta evitar saber, ao expor seus comentários ao vivo na TV. Da mesma forma que o governo do presidente Lula me permitiu adquirir um carro popular, também me permitiu continuar meus estudos. Durante este governo, graças aos investimentos em educação e apoio à pesquisa, foi possível a uma pessoa como eu, vinda de família pobre e do interior do estado de Minas Gerais, fazer o mestrado e hoje cursar o doutorado numa instituição pública federal de ensino superior.

    Mais ainda, Sr. Luiz Carlos Prates, este mesmo governo me permitiu ascender socialmente e obter estabilidade ao ampliar as instituições de ensino comprometidas com a oferta de cursos técnicos e superiores, como as Universidades e os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, numa das quais hoje sou professor efetivo. Foram inúmeros concursos e a efetivação de milhares de docentes e técnicos nestas instituições. E é exatamente sobre este aspecto que gostaria de avançar na minha discussão.

    O Sr. afirma que este governo permitiu a quem “nunca tinha lido um livro” adquirir um carro através do crédito fácil. Porém, esquece-se o Sr. de mencionar que este governo “espúrio” investiu mais em educação do que qualquer outro. Este mesmo governo deu acesso às camadas mais baixas da população aos bancos das universidades e permitiu a diversos jovens estudarem e terem uma profissão ao ampliar as escolas técnicas por todo país.

    Não, Sr. Luiz Carlos Prates, estas pessoas que compram carros hoje não são tão “miseráveis” e “desgraçadas” quanto o Sr. pensa. Pelo contrário, estas pessoas compreendem melhor a sociedade em que vivem e os grandes ganhos que tiveram nos últimos anos.

    Não, Sr. Luiz Carlos Prates, estes indivíduos não passeiam de carro para amenizar os conflitos entre maridos e esposas. Estes indivíduos saem para celebrarem, juntos, a felicidade de uma nova vida que se constrói. Não são pessoas frustradas, pelo contrário, são indivíduos REALIZADOS. Na verdade, frustrada é a elite que sempre teve este país nas mãos e que agora não consegue aceitar que as camadas mais pobres ascendam e passem a ter acesso àquilo que era tido como exclusividadedos grupos privilegiados economicamente.

    Não, Sr. Luiz Carlos Prates, os acidentes nas rodovias não acontecem por causa destes “miseráveis” e “desgraçados”. São diversos os motivos dos acidentes, entre eles, o excesso de velocidade daqueles que podem adquirir os modelos de automóveis mais luxuosos e velozes e que, mesmo com toda a tecnologia de seus carros, também não conseguem “vencer as curvas” e outras barreiras que possam aparecer – entre elas, veículos de indivíduos inocentes.

    Por fim, caro Sr. Luiz Carlos Prates, gostaria de informar-lhe que consegui trocar de carro. Ainda circulo por aí, nas tão movimentadas estradas do país, com um automóvel popular, mas já mais novo e com algum conforto a mais que o primeiro. Eu, minha esposa e minhas lindas filhas estamos felizes com o nosso automóvel, com a nossa casa ainda alugada e com as viagens que podemos fazer. Espero que o Sr. reflita sobre o quão preconceituoso e desvinculado da realidade foi o seu comentário que ganhou repercussão por todo o país.

    Sem mais, despeço-me aqui. Um cordial cumprimento deste homem proprietário de um humilde carro popular comprado graças ao crédito fácil com parcelas a perder de vista, mas feliz.

    Guanhães/ MG, 19 de novembro de 2010.

    Plínio Ferreira Guimarães

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